segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

. [do livro de cartas] todo começo de adeus .

minha querida,
não se desespere!

há tempo pra tudo: pras folhas secas, pros sonhos maduros, pras amoras ficarem doces, pro teu amor acontecer. não espere que as coisas desapareçam, pra só então começar a viver. toma em tuas mãos todos os presentes do tempo. respira o vento que sopra lentamente no teu rosto e segue o teu coração, esse aliado bobo que é morada pra tanto sentimento bom.

recolhe esse pranto que você insiste em viver, minha Alice. e põe no lugar toda essa força que tua voz esconde, sempre que vai se achegando o verão. teu sonho é guia de bom caminho, teu lar é música de bem viver. enquanto teus olhos tocarem o céu todas as manhãs, vai ter fruta no quintal, chuva boa no fim da tarde, flor nascendo em contra tempo, caminho se abrindo na vontade do teu bem-querer.

por isso, se tiver que chorar, chore. mas que seja depressa. guarda que não vieste morar nesse tempo pra ser porta voz de qualquer sofrer. colore teus versos com anil e nunca, nunca mais permita que o que vem de fora, seja maior que o teu sentir.

eu estarei sempre por perto, com morangos frescos e chá de maçã e canela. 
pra que você jamais se esqueça do que é essencial.

é sempre com amor,
Bisa.



terça-feira, 12 de dezembro de 2017

. quando cê disse que vinha .

comecei a escrever porque cê disse que vinha.
fiz um livro inteiro com as histórias que não te contei. mas que vivi, enquanto te esperava chegar.
achei engraçada a forma como as palavras se dispunham milimetricamente, pra contar pro papel sobre toda a fantasia que criei pra te manter por perto. num desatino que, por vezes, chegou até a parecer amor. 
fui tecendo as minhas páginas com todo esse quase que cê sempre trazia em cada mão.
nunca aprendi a fazer rima, porque o tempo entre seus olhos e os meus, calhou de ser breve demais. e porque tive medo também... principalmente de descobrir que coração, ilusão e nós em par, poderiam muito bem morar, ao mesmo tempo, no mesmo verso. e isso, mais que a saudade, me entristeceria por toda a vida.
também não me separo dos dramas. como cê tanto diz, eles estão calejados no meu peito, cansado de tanto insistir. também pudera! tanta beira de abismo em flor, como é que fui calhar de me jogar no seu silêncio?
o que me preocupa - devo lhe dizer - nem muito é essa sua ausência, insistida em me procurar. 
mas é que eu continuei a escrever porque cê não veio. 
e, nesse tanto que me lancei à sorte - da nossa própria solidão -, aprendi a conjugar todos os verbos no infinitivo e sem plural, nuns instantes de vazio, armaduras e tanto ar. 
desaprendi muita coisa enquanto te esperava. 
e, talvez, isso é que diga muito sobre as partes em branco que o tempo me ensinou a te escrever...




















domingo, 26 de novembro de 2017

.n'oublie pas de vivre.

enquanto brotam flores no meu jardim,
o tempo usa seu jeito singelo
pra me dizer sobre silêncios e desejos de novo ano.

faço chá pra evitar tomar tanto café.
há três noites não durmo direito 
e isso só pode ter a ver com o excesso de barulho aqui dentro
ou com a tua incrível capacidade de passar ileso pelo reflexo das tuas próprias lembranças.

você não veio...

e fez-se um mar inteiro aqui dentro de mim.
os poemas permaneceram nas mesmas páginas amareladas pelo tempo
e as canções nunca mais tocaram no rádio.
nosso álbum de memórias ganhou novas histórias em branco, esperando por aquilo que a gente não viveu.
ainda chove quando estou muito triste, mas esta tarde o sol tentou aparecer.
entendo a tua ausência, embora prefira não falar tanto sobre tempo e nem amor. 
procuro motivos pra partir, mas escolho esperar o carnaval chegar.
disseram que meus olhos parecem ter perdido alguma coisa. eu rezo pra não ser você.
o motorista do táxi disse que é cedo pra desistir de 'seja lá o que for' e acho que eu prefiro aceitar.
se cê aprender o caminho das voltas, me ensina quando chegar?




quinta-feira, 9 de novembro de 2017

.me ensina.

ensina-me a fazer um duo?
sei, afinados, tantos sonetos
mas vê só, quanto descuido!
não aprendi a dançar a dois.

ensina-me, na melodia do teu nome,
quanta ausência cabe em meia hora...
e quanto silêncio vive de mim,
desde que passei a conjugar no tempo presente,
todo o verbo que vinha de ti.

você deveria vir...

a previsão do tempo diz que vai continuar fazendo chuva.
o vendedor de balas ali da esquina, nunca mais vendeu caramelos.
usei as meias amarelas porque aqui ainda é muito frio.
tenho planos de ir embora no próximo ano ímpar e, talvez, nunca mais voltar...
desenho teu rosto nos vidros embaçados pelo tempo.
não se importe com teus atrasos, que eu mesma já nem me lembro.
já vai dar meia noite e eu nem sequer sei porque a gente insiste no verão.
ainda tem luz aqui dentro e tudo brilha, num jeito de existir devagar.
hoje ouvi de alguém que isso tudo que faço é bonito... 
queria que percebesses também. no tanto teu que cabe no meu caminhar.
espero que cê nunca entenda que, às vezes, a gente pode ser tarde demais.





segunda-feira, 30 de outubro de 2017

. [do livro de cartas] voa com o vento .

Salvador, 

aprendi, ainda criança, que certas coisas, quando começam a doer, a gente não tem muito como remediar: carece deixar ao tempo, a Deus dará, como diziam antigamente.

te conto isso porque, de uns tempos pra cá, aconteceu o que eu muito fazia gosto de não acontecer: o jeito d'ocê existir, começou a me doer. eu evitei enxergar porque não queria perder da vida, a minha única chance de amor. mas nem sei como foi. quando percebi, já tava aqui chorando, três dias direto, sem sair de casa, sem falar com os outros, sem me ver no espelho. só pensava na dor. e quanto mais pensava, mais eu sentia. coisa que nunca senti antes, quase que uma falta de vontade de viver.

corri pra Bisa, depois de uma noite em que não vi estrela nenhuma. e então ela me alertou. disse que é bem capaz que a vontade do meu pensamento, prendia meu coração n'ocê e isso desencadeava toda dor. cá no fundo, eu sabia também que metade disso (isso a dor) vinha da minha certeza de que cê não voltava porque não mais queria. e isso, em si, fazia mais cicatriz do que se cê criasse coragem pra me dizer...

é que algumas coisas, Salvador, doem mais quando a gente supõe, do que quando a gente tem certeza. e sabes muito bem que sou dada a suposições e ilusões demais. e vai ver, é por isso que sofro tanto. 

aquelas mesmas cartas que viram nosso destino, já não te enxergam mais em mim. e fiquei pensando se o amor apaga e amarela assim mesmo, como caderno velho escrito à lápis. vai ver, no fundo, nunca foi amor. foi só essa vontade de que as coisas fossem diferentes porque danei de ver no seu jeito de enxergar o mundo, uma maneira mais bonita de se viver. e isso, nem sempre vai ser libertador.

no entanto, não te preocupes. teu lugar sempre prevalecerá nas cartas e nas canções, até quando o tempo carregar tudo...

ainda (e sempre) é com amor,
Alice.



terça-feira, 24 de outubro de 2017

. por enquanto .

entendo pouco do que cê diz. e, por isso, às vezes eu tenho a sensação de que a gente está sempre em pausa, aguardando algo extraordinário acontecer. já aprendi que não se deve esperar demais pelo que é do outro: há de se entender, cá dentro do peito, cada um com a sua própria esperança. sei também que é pras coisas simples e pequeninas que a gente nasceu pra viver: vento no rosto, montanhas, mar, jardim, mãos dadas. essas tais coisas em que ninguém mais acredita, mas que eu faço questão de lembrar toda manhã ao acordar [pra não correr o risco de perder de vista].

vai ver, foi por isso que eu amei primeiro a sua maneira de sentir. pra depois enxergar e me encher do brilho que o mundo te põe nos olhos. vai ver, foi por isso que eu aprendi que a liberdade é a coisa mais bonita que alguém pode ter [depois do amor, que move tanto encontro nessa vida]. talvez a gente tenha mesmo vindo pra ser voo, não raiz. e  n u n c a  s e  p e r t e n c e r. assim mesmo, pausadamente, repito 20 vezes seguidas, que é pra me acostumar logo, enquanto ainda não é verão.

é que passou-se muito tempo desde que a gente se achou. e eu bem sei que nada, além da minha própria ilusão, permaneceu no mesmo ponto doce dos começos. fala-se em saudade, mas não se tem mais tempo pra ouvir o barulho do mar, nem contar histórias de amor. fala-se em dor e sofrimento, mas não há mais espaço pros risos leves, nem pras conversas sob a rede na varanda [sobre a lua e as constelações]. e eu  falo em ausência, mas nem ao menos sei se te reconheceria refletido fora de mim.

disseram que cê sente minha falta de vez enquando. não sei se entendi. mas se é pra acreditar em alguma coisa, que seja ao menos nesse por enquanto.



segunda-feira, 9 de outubro de 2017

. enquanto eu não te esqueço .

enquanto eu não te esqueço, eu planto lavandas no jardim pra que façam companhia pros meus girassóis no próximo outono. e também pra que me passe o tempo sem que eu perceba, o entanto em que espero.

enquanto não esqueço, 'j'apprends à parler français', tomo chá antes de dormir, escrevo poemas quando amanhece, desenho às terças-feiras, e faço ioga às quintas pra equilibrar os chakras.

enquanto não te esqueço, eu acordo cedo aos domingos, só pra ter mais tempo pra esquecer. e frequento poucos bares, saio pouco pelas ruas, quase não atendo ao telefone, omito notícias pra ninguém me encontrar.

enquanto não esqueço, parei de colecionar cartões postais, cadernos de anotações e canções em tom maior. parei de sorrir em público também. e de escrever sobre você a cada esquina.

enquanto não te esqueço, penso em ir embora uma porção de vezes: pro sul, pro Amapá, pra Paris. qualquer lugar em que fosse mais fácil esquecer e pra onde você não pudesse chegar, nem em pensamento..

enquanto não esqueço, descubro que você nunca se lembrou. leio poemas que dizem que o amor, assim como os retratos deixados no fundo da gaveta, desbota e amarela.

guardo você no coração. tranco e jogo fora as sete chaves. dessa vez cê não sai. e eu te esqueço, antes do último pôr de sol...


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

. [do livro de cartas] solitude .

Minha pequena Alice,

soube, pelo teu silêncio, que a solidão voltou a lhe fazer companhia. e é por isso que lhe escrevo: pra pedir que tenha calma. e que entenda que é preciso muito cuidado nesse caminho de desalinhavar tantos nós. 

eu sei que setembro foi um mês de difíceis esperas e de pouco chão. e sei também que esse vazio que por hora te preenche, tem mais a ver com suas escolhas do que com o seu destino em si. entenda, minha querida, que nem sempre vai ser tão fácil e nem sempre tão difícil: às vezes coração da gente pede uma trégua. e é no equilíbrio desses dias mais sombrios, que ele vai entender a beleza de ser um pouco só.

daqui a pouco já é outro dia. e quando a gente abraça a solidão com um pouco mais de calma, ela perde toda sua grandeza e se transforma naquela palavra simples, que te canto desde pequenina: 

"encontra na sua solitude,
a paz que dança no seu coração"

por isso, querida, nesses últimos dias antes do seu ano acabar, trate de tirar esse peso que carregas nos ombros. e volte a sorrir, a escrever, a dançar. que ainda tem muito encontro dentro do seu passo e muito amor pra em ti envelhecer. 

guarda teus anseios nas estrelas e cumpre teu caminho em ser do amor. ainda há muito o que aprender, antes do fim da tua estrada.

com amor,
Bisa.


ps.: sei que a primavera te traz mais espinhos que rosas, mas aprende a perdoar. 
e cura essa desavença com água salgada, manjericão e alecrim.
tem suspiro na gaveta, te esperando voltar. 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

. [do livro de cartas] o amor que me atravessa .

Salvador, 

em alguns dias, nesses que são mais de saudade e de vento, eu penso n'ocê de um jeito devagar, que me faz esquecer um pouco a solidão. cê mudou, eu também. e é claro que o amor sofreria todas as nossas consequências, mesmo sem a gente se importar. 

o amor me atravessou, Salvador. e embora seja tão difícil acreditar nisso, só aconteceu porque era ocê a me sorrir na outra ponta do tempo. caso contrário, desconfio que passaria por essa brevidade nossa, como quem suspira e espia a vida correr pelas janelas de dentro. 

e escreve, pra sobreviver. 

eu não teria conhecido um bocado do amor, se cê não tivesse chegado naquele agosto seco e silencioso, pra me tirar pra dançar sobre o tempo. lembro como se fosse hoje: cê usava uma blusa branca, um chapéu marrom, óculos de sol e um jeito vivo de enxergar o mundo, que hoje eu já não vejo mais (nem o mundo, nem n'ocê).

pudesse, deixava tudo que vivi de lá pra cá, toda essa longitude em que me transformei, só pra ter de volta aquele teu coração de começos. a vida sempre possível, os planos de casa lilás com paredes brancas e rede na varanda... toda uma simplicidade, que a gente não vê mais no nosso coração.

Bisa me disse, outro dia, que se tiver de ser, não importa o tanto ou no quê a gente se transformou: o tempo, que a gente não mede em ampulhetas nem em relógios, se encarrega de unir nosso sorriso de novo, numa dessas curvas que a gente tanto faz. 

eu gosto de acreditar nisso, principalmente nesses dias em que a saudade carrega o nome teu...

vai ser sempre com amor.
Alice,

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ps.: faltou te dizer que todos os poemas, até aqueles que eu não escrevi, eram procê.

sábado, 12 de agosto de 2017

. meu menino amigo, .

eu lia nos seus olhos:
- é sempre cedo demais...
e de tanto ser manhã, cê se instalou no meu passo como uma doce caminhada:
   lado a lado, coração tranquilo.

e eu nunca tive medo de lhe mostrar meu rosto;
porque cê me acolhe lágrimas, com a mesma doçura que me vê em sorrisos.
e eu nunca tive pressa de lhe ser por perto;
porque cê ganhou seu espaço do lado de dentro, quando as portas enferrujadas já nem queriam mais se abrir...

cê se tornou o acolhimento, nos dias enquanto tudo é pressa.

meu menino amigo,
eu desejo que teu coração floresça.
que sintas o gosto de sal só da água que vem do mar.
que viva devagar pra ter tempo de sentir: saudade, alegria, amor.
que seus sonhos se realizem. e se renovem. e sejam sempre um aconchego teu.
que em seu coração tão, mas tão grande, sempre caiba mais um, pra sentir o gosto doce de te ver ao sorrir.
que os obstáculos te façam grande.
que as dores te transformem amores.
que nunca seja tarde demais...

eu tenho sorte, meu menino...
e ela tem seu nome, grafado com letrinhas de amor...






quarta-feira, 9 de agosto de 2017

. em pausa .


eu vou lembrar o seu sorriso mais bonito, que sempre me aparecia quando era verão.
os olhos apertadinhos pelo sol, a voz leve de quem está sempre indo. e a gente nunca sabe pra onde. nem por que.
vou lembrar sua forma leve de abrir portas e de libertar meus medos, de criar sonhos, de fazer planos e de odiar invernos.
naquele meu jeito meio torto de te gostar direito, um silêncio que nunca quis ser vazio, porque cê preenchia todos os espaços em branco de mim.
e vou lembrar os abismos (os meus) até entender que eles diziam muito mais sobre ocê, que sobre mim.
porque desde um tempo que é sempre, eu aprendi que aquilo que te fazia livre, podia me libertar também...

eu vou guardar essa raiz que eu criei n'ocê e que me fez querer girar e girar pelo mundo.
porque era isso que cê me dava: um par de asas pra voar e me fazer chegar onde eu quisesse. e cê sabe que eu fui muito longe...
vou guardar o primeiro dia - aquele! - em que cê chegou e eu não tinha ideia do que te fazia tão bonito.
por fora, por dentro. inteiro... e mesmo assim, eu nunca tive medo. e acho até que nem ocê.
e vou guardar as palavras bonitas, as promessas de saudade, o coração em festa.
porque faz parte do meu tempo mergulhar na vida que cê me trazia nos olhos e na voz, por um tempo que eu nem sei em ti contar.

eu vou ter todo o tempo do mundo pra esquecer... 
aos poucos, os detalhes vão se apagar, 
a memória a se desdobrar em pausas, 
o coração volver tranquilo sem a doçura das esperas.
vous ne savez pas,
mas eu já deixei de ser mar há muito tempo...





quarta-feira, 19 de julho de 2017

. [do livro de cartas] é só tristeza, Bisa .

dia desses, Bisa me perguntou: 

- que foi que aconteceu procê ficar triste assim, minha pequena?

eu não soube responder... e me entristeci mais ainda, quando cá no fundo do peito, eu tive a certeza de que essa tristeza vinha mais d'ocê do que de mim. e nem sabendo disso ela virava alguma coisa que eu podia controlar.

a gente já sabe que a gente não controla o que é do outro. e a tristeza vinda assim, da sua forma de existir em mim, foi me deixando cada vez mais miúda e apertada, dentro do meu próprio coração.

acontece que durante todo esse tempo, Salvador, cê foi cuidado por mim pra nunca se tornar uma parte comum no meio dos dias. mas aí, cá me deparei com o pensamento tentando te transformar num pedaço mais próximo quando, na verdade, cê tinha que ficar aí mesmo, criando raiz dentro do meu sonho. 

e só.

foi tudo sem querer. e acho que foi aí que eu te perdi: quando te transformei em realidade e ela passou a doer mais que corte de navalha. 

aí foi-se embora meu viço. e meu brilho nos olhos também. porque tinha guardado n'ocê esse tempo todo, a minha única esperança de amor. e é triste ver o amor esvair dos dedos da gente, que nem água limpa de nascente e riacho.

eu queria que fosse ocê, Salvador. e eu sempre quis, mesmo antes de lhe conhecer. mas o tempo pode ser um pouco cruel às vezes, e fazer com que a gente esqueça o que deveria lembrar e viva o que foi feito pra esquecer.

mesmo assim, com todo esse pranto desencontrado, eu espero que cê me guarde em suas doces lembranças, de um tempo em que a gente não precisava de tanta explicação pra existir.

te guardo no peito.
e é sempre com amor,

Alice.


domingo, 9 de julho de 2017

.sobre todas as coisas.


às vezes cê me faz rir. 
outras, choro como se vivesse vendo ir embora parte do meu coração.
cê não sabe, mas eu faço prece todas as noites pra que o tempo cuide do passo que é seu.
não sabe também, mas eu fiz um tanto de planos pra que num futuro próximo, fosse ocê a minha companhia. 
porque cê é minha pessoa preferida. e isso, mágoa nenhuma desfaz. 
nem vento. nem chuva. nem quilômetro.
porque eu gosto docê d'um jeito que é simples:
de mãos dadas e de coração tranquilo.
um gostar que, se a gente cuidar direito, logo vira amor... 
desses que a vida não esquece.
e que a gente embrulha em plástico bolha e guarda nas gavetas da memória, 
que é pra não perder a cor. nem desgastar.

- cê já viu algo assim? já sentiu algo desse jeito?

hoje sei pouco docê e muito de mim... 
e não sei o quanto isso quer dizer do que nos aproxima,
mas sei o que quer explicar sobre nossa distância e o tempo,
que são enormes [e nisso não exagero].
o que eu queria mesmo, assim desse jeito, nesse nosso hoje meio anuviado,
era que cê dissesse:

- não sei nada sobre esse sentir, mas seria doce aprender com o teu coração.

eu não sou boa pra explicar as coisas,
e também tenho medo de que cê me esqueça...
de todo jeito, há semanas em que sinto saudade do que a gente poderia ter sido
e mais ainda, daquilo que a gente nunca sequer vai ser.
noutros dias, preferia não ter lembranças. 
mas as tenho, até sem querer...
e, às vezes, são elas os nossos maiores abismos.


quarta-feira, 14 de junho de 2017

.avoa! .

cê escreveu primeiro:
"queria poder morar no abraço teu".
meio que num susto, sempre sem saber muito o que dizer, só te respondi:
"eu também, seu moço. 
queria poder morar num abraço teu".
é que cê não sabe, mas eu te fiz um dos meus abrigos já há muito tempo. 
e foi desde então que nunca mais me senti só.

porque cê sempre se faz por perto:
na música, nas flores do ipê na esquina, na cor verde da janela dos fundos, na lembrança mais bonita do meu coração.
essa coisa de sentir frio na barriga quando cê se achega,
e borboletas no estômago quando cê tá prestes a voltar,
faz com que eu me esqueça de todas as vezes que o caminho ameaçou desencontrar.
porque cê é encontro dentro de mim. 
e isso é bonito.

acho (nesses dias que são mais de silêncio e de brisa),
que o tempo tem trabalhado arduamente pra gente ser voo, 
asa,
vento,
gosto,
liberdade,
coração.
o amor tem dessas coisas.
de pousar no coração da gente feito passarinho,
e construir ninho devagar, galho por galho, até se sentir leve e forte, 
pelo gosto de ficar....


[fica!]



Imagem: Pinterest


terça-feira, 23 de maio de 2017

. esse fio fino que liga seu coração ao meu .

no dia em que cê me pediu que ficasse, eu sabia que não poderia ir embora e te deixar pra trás. 
por isso construí toda essa alegoria no jardim: pra enfeitar teu coração.
cê não entende muito, e eu sei.
que é difícil pra mim fazer morada lá fora, mas também é estranho chamar de lar aqui dentro.

verdade é que sempre fui assim: meio confusa, numa vontade quase louca de ganhar o mundo... não que eu queira ter tudo, longe disso e você bem sabe. 
mas sim que eu queira (muito!) encher o peito dessas coisas que os olhos da gente veem por aí.

sabe como?

é que eu sempre gostei de voar. sempre gostei de ir e vir. sempre gostei de conhecer o novo e guardar no peito, como se me fosse familiar.
essa coisa de criar raiz e cortar a asa me tira o eixo que é viver. por isso essa mania estranha de não ser de lado algum. por isso esse jeito de viver em silêncio, com o coração se fazendo mar...

só que quando eu coloquei os olhos nocê [e isso já faz tanto tempo!], aconteceu uma coisa muito estranha: eu sabia que não teria que ter um fim. mas tive a impressão de que a gente inventaria uma porção de começos, guiados por esse fio fino que passou a ligar seu coração no meu.

aí mudou tudo. e eu passei a desejar quintal com flores, casa com paredes lilás e sua rede bem colocada na varanda, procê descansar nos fins das tardes ou ver a lua quando anoitece. 
entendi que eu não tinha que me prender nem me perder de nada, se fosse você...

porque é assim que é o amor:
a gente saber que pode descansar em paz em alguém, até não ter coragem de ir embora nunca mais.

{essa chance imensa de abraçar teu coração vai acabar se tornando meu lugar...


quarta-feira, 10 de maio de 2017

. [do livro de cartas] reencontro .

Querido Salvador,

no meio de todo esse turbilhão, foi bom rever você e entender como o tempo passa veloz pela gente. nesse espaço vazio que ficou entre a nossa distância, eu quase tinha me esquecido de como era bom ver você sorrir e do quanto cuidei desse amor pra que ele fosse o único a não se transformar em mágoa. foi assim que ele se tornou a coisa mais importante do meu caminho. e é por isso que você vai ser sempre a minha pessoa preferida.

ah, que eu queria ter te dito tanta, mas tanta coisa! porque eu sabia que aquele seria o nosso último pôr-do-sol de outono. mas acontece que eu não consegui. a vida nossa se esfarelou na minha memória e tudo que me restou foi guardar aqueles minutos de olhar a luz incidindo devagar pelos seus olhos pequenos. tenho disso, cê sabe: sou mais de ver que de falar. mas acabei saindo docê meio vazia, sentindo que aquele silêncio me arrancava muito mais que um pedaço meu. 

daí eu chorei.

depois Bisa me explicou que não havia problema nenhum entre a gente. mas que o amor sempre foi mais responsabilidade minha, te sobrando o cuidado e o carinho, mas que os três nem sempre precisam de grandes feitos pra nos acontecer. foi aí que eu entendi. que não importa o que passe: vai existir da gente se perder mesmo mais uma porção de vezes, que com o tempo a gente nem mais vai saber contar. no fundo, o que vale mesmo nem é isso, mas a forma que a gente se guarda e se preserva do lado de dentro. 

não é nosso fim. eu sei e você sabe também. carece de a gente aprender: os (re) começos nem sempre vão ser de um jeito que a gente deseja, mas acabam sendo do jeito deles, e isso vai ser sempre nosso melhor. 

a sensação que tenho, Salvador, é a de que nossa vida vai ser sempre um reencontro. e vai dar toda vez o mesmo frio na barriga e a tremedeira nas mãos na hora de aceitar uma xícara de café. 

obrigada até pelos abismos...

ainda e sempre é com amor,
Alice.





segunda-feira, 1 de maio de 2017

. é só saudade. e vai sempre ser .

o tempo é uma janela aberta. e a gente sente tudo [a brisa, o amargo, a fumaça, o frio, as saudades]. aprendemos, de pequenos na escola, que saudade é substantivo que não tem plural. mas, mais velhos, entendemos que nela, em si, cabe todo o infinito sem precisar que qualquer coisa se multiplique. ou se explique.

comecei cedo a saber sobre saudade: sempre a senti cutucando o peito, sem compreender muito bem porque. hoje, sei teu endereço primeiro. aquele que me fez atingir distâncias e silencia-la um pouco, como quando passa o carnaval: na quarta-feira de cinzas, tudo volta ao seu estado de silêncio e vazio, ao qual já estamos tão habituados.

mas hoje... hoje não tem confete, nem serpentina. hoje a minha saudade sente muito. sente os lugares que não viu, os abraços que não deu, os sorrisos que não riu, os desejos que escondeu. sente as palavras que não ouviu, e que também não me encorajou dizer. sente em três ou quatro soluços, as histórias que não viveu, as chances que não se deu, as alegrias que se poupou.

hoje minha saudade mora num porta retrato na sala de casa, em um cheiro que vai sumir da caixinha em que guardei recordações, na voz que ecoa na memória suas canções encantadas tão devagar. hoje minha saudade sabe que vai amarelar como as folhas de caderno antigas, até esfarelar e virar poeira no tempo. hoje, ela (a minha saudade) sabe que eu a sinto, sem ter sequer muita coragem pra sentir. 

e ela sabe também que eu nunca mais serei a mesma, depois que ela se instaurou em meu peito nesse fim de abril, transferindo os agouros de agosto, em uma dor lamento que às vezes me desprende do passo e me flutua por onde nunca vivi.

"é saudade seu moço, é saudade!". 
e a partir de então, voltei a acreditar nos fins...


.as mãos de vóinha, que desde 27 de abril, não podem mais seguras as minhas.


.as mãos de vóinha, que desde 27 de abril, não podem mais segurar as minhas.










terça-feira, 25 de abril de 2017

. prece .

às vezes é preciso silenciar a mente, pra entender o que o coração quer da gente. 
não é sempre que sabemos ir embora, e também não vai ser hoje que vamos aprender a ficar. 
a gente já sabe que tudo nessa vida carece de tempo. 
até as despedidas. 
por isso, não apresse o prazo das voltas, nem prolongue a hora do adeus.
entrega teu coração ao caminho. coloca ele na frente e encontra a fé no que cê acredita.
deixa que o amor guie teu passo. confia em Deus, que Ele sabe de todas as coisas.
ouve, no silêncio aí de dentro, o que sua alma tem a dizer.
e nunca, em hipótese alguma, desista: de sorrir, de confiar, de encontrar sua direção.
que a gente aprende com a alegria e com a dor, não tem jeito.
e destino da gente é arisco, não cabe ao corpo controlar. 
mas cabe ao peito sossegar o pranto. e ir em frente!
pensamento quieto, coração tranquilo.
que as coisas se ajeitam. uma hora ou outra, a gente toma forma de novo.
e volta a ser o que a gente era.
com um pouco mais de marca, um pouco mais de cicatriz.
mas naquela certeza meio frágil de que a gente vai sempre até o lugar certo, 
quando entende que prece é canto,
que vem do silêncio do coração.






terça-feira, 11 de abril de 2017

. je veux voler .

era ainda tardezinha quando cê entrou pela porta dos fundos, com os olhos cheios de adeus. eu tava lá, esquentando a água pro seu 'thé de camomille', que cê toma todas as noites e que te faz dormir melhor desde que voltou. 
cê não me olhou nos olhos - achei estranho. 
nunca foi do seu feitio encarar a vida com a cabeça no chão. também não perguntei o que tinha acontecido, um pouco porque tive medo, outro pouco porque tive medo também. 
mas se cê vem e me pergunta agora: "medo de quê, criatura?", eu não saberia jeito nenhum de te explicar. 
talvez medo de que cê fosse embora ou de que me dissesse que era cedo demais pra ficar. vai ver, medo de que cê nunca mais me olhasse nos olhos ou de que cê me contasse que morreram todos os seus girassóis. medo de que cê tivesse desacreditado na gente e tivesse resolvido cortar o mal pela raiz de uma só vez. mas de tudo, o que dava mais medo, era dos seus olhos de adeus. e de que eles te levassem embora pra longe, antes do amanhecer. seria meu amanhecer mais triste: acordar, procurar por eles no quintal, não encontrar nenhum sinal do caminho que fizeram, te levando embora de mim... 
- não caibo aqui faz tempo - cê me disse baixinho, enquanto Holden cantava "Ce Que Je Suis"
aí eu entendi... que o mesmo tempo que te trouxe, também te levava aos poucos pra esse lugar longe de onde cê veio, mas nunca mais ficou.
"J'oublie, je bois, je bois l'oubli
Mais qu'est c'qui m'arrive"
- voa, passarinha - eu quis te dizer. mas uma parte egoísta do meu coração preferiu te aprisionar mais um pouquinho, até a próxima dança.




domingo, 2 de abril de 2017

. questões do infinito .

Hoje fez um dia bonito, como nem sempre são os dias aqui. As amenidades de outono gelaram minha manhã e, se pudesse, teria ficado todo o tempo em casa, sentada em frente ao computador, lendo, escrevendo, desenhando um pouco. Talvez sentisse menos tua falta. É que a sinto (muito!), principalmente quando saio às ruas e vejo rostos nada semelhantes ao teu. “As pessoas aqui carregam uma alegria triste”, pensei. E concluí que vem daqui essa minha mania de sorrir nos lábios o que os olhos tanto choram.

Te guardo em saudade, já lhe falei várias vezes. Ocorreu-me agora, aquele poema falado pela Matilde Campilho, com seu cantado sotaque “português-de-Portugal”:

“é terrível a existência de duas retas paralelas
porque elas nunca se cruzam. 
e elas apenas se encontram no infinito”.

Sei que se interessas por essas questões de infinito e por qualquer outra coisa que pareça te tirar daqui, das gaiolas desse mundo. Ele às vezes também ressoa como algo do qual nunca fizeste parte, eu sei. Mas consegues lidar com isso bem melhor do que eu, que ando desfazendo um tanto de nó, tentando o encontro de um único laço.

É estranho pensar que o que mais nos afasta foi meu maior começo de amor. Lembro bem quando você me disse: ‘eu ando sempre distraído demais nesse passo que é viver’. E eu compreendi ali que dizias sobre liberdade e teu amor pelo vento no rosto em dias de estrada. Sempre soube ler tuas entrelinhas, embora eu pareça chegar quando você já está partindo.

“Não se esqueça de me escrever”, eu deveria ter dito. No entanto, espero sempre uma fresta de sol nos dias frios, para me aquecer as meias e o moletom escuro. Você não vem, eu já sei. ‘Nem em palavra e nem em verbo’, repito para não esquecer. Porque algumas vezes, eu deixo de me lembrar que te conheci em uma manhã de primavera, quando a gente ainda acreditava no amor. E se hoje eu aprendi a temer os silêncios, é porque entendi que eles podem ensurdecer qualquer coração partido. 

[te guardo nessas palavras. para que se torne o motivo da minha terceira fuga...]

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Matilde Campilho.:

quarta-feira, 29 de março de 2017

. [do livro de cartas] a gente esquece .

querido Salvador,

sempre que pensar em mim, quero que me lembre como a pessoa que mais lhe amou sem pressa. hoje, já não sei mais se lhe amo, mas gosto devagar, com a mesma ternura das manhãs preguiçosas de outono. 
"a gente esquece, mas demora", li em um poema dia desses e me lembrei de você. porque no fundo, acho que é isso: por mais que eu disfarce, estou lhe esquecendo aos poucos. seu rosto já não me vem à memória quando tomo café às quatro e vinte e cinco da tarde. sua voz não mais substitui as traduções nos filmes de amor. já nem sequer reconheço os traços das suas mãos e nem o som que você emite ao sorrir. ou chorar.
no entanto, me cabe um vazio, que por horas acho que você preenchia. aí, por outras, acho que te inventei pra me curar da dor... 
não sei ao certo.
cê me faz falta e isso é imenso. cê me faz saudade e eu ando um pouco perdida. 
mas estou te esquecendo, não posso evitar. "a gente quer esquecer pra sempre, mas não vai ser hoje. a gente esquece e não sabe como", me ensinou o poema. 
é uma pena, eu sei. já que por mim, a gente seguia juntos por aí, colecionando nós dois, feito um álbum de figurinhas ou bolinhas de gude.
"a gente esquece quando se distrai". de todo jeito a gente esquece, Salvador. e por mais que demore, há de chegar a hora.

agora, é com carinho.
Alice,



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o poema é da jornalista e escritora Sabrina Abreu. 
e está completo lá no Instagram dela: @abreusabrina 
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domingo, 26 de março de 2017

.conversa breve com Drummond.

"repara que o outono é mais estação da alma que da natureza",
ah querido Drummond,
se soubesses o quão feliz fica meu coração nesses dias de sol-devagar!
não sei... mas uma vez me disseram que é por isso que fiz do outono minha estação preferida: por essa possibilidade de viver como se cada passo pudesse ser pensado e dado sem pressa. eu, por fim, não acho que escolhi o outono em momento algum, mas tenho quase certeza de que foi ele quem me escolheu, me presenteando com suas cores... tiveste a oportunidade de ver o céu em lilás, laranja e amarelo, dos fins de tarde de outono? é uma beleza que faz chorar de alegria.
"quanta melancolia!", talvez alguém nos dissesse. 
"quanta poesia!", a gente concordaria.
veja só: verso até sem saber fazer rima!
por essa possibilidade do tempo, fico mesmo mais recolhida. ando preferindo silêncios, tento não me irritar, sou capaz de perder mais de meia hora na janela, só observando as nuvens mudarem de lugar no meio do azul. 
é como se o tempo me dissesse lento: 
'acalma coração! toma sua dose de esperança e vá ser feliz com (c) alma'.
e ele vai... como se sempre valesse a pena.
e porque ele sabe que vale...

quarta-feira, 22 de março de 2017

.ninguém quer ler poesia.

"ninguém quer ler poesia!".
cê me disse dura e seriamente.
eu te sorri. sabia que estavas tão certo quanto o meu coração. 

queria ter te dito que leio poesia. 
e que sou alguém...

mas preferi não contrariar você, pra não desgastar o meu amor.

é. eu amo você. 
com a força e a rima que meus olhos calam...

"eu amo você!", e era pra ter te dito. 
mas lá atrás, quando danei de me encontrar nas palavras, fiz desse amor poeta
pra se eternizar em cada estrofe e assim não morrer.

"ninguém quer ler o meu amor", silenciei.
cê não vai saber nunca,
mas eu te quis poesia a todo tempo...

[imagem: Pinterest]    

quarta-feira, 15 de março de 2017

.[do livro de cartas] me perdoe .

Alice,

eu teria ido embora se você tivesse esquecido. seria mais fácil assim, carregar uma culpa menos minha pela nossa distância. por isso, tantos bilhetes sem resposta, tantos silêncios sem razão: eu queria que fosse você a ir embora e partir meu coração.

não pense que é por fraqueza minha... mas é que eu não sou bom com essa coisa de amor. e penso que sofrer tua saudade seria menos dolorido do que te ver doendo a minha. também não pense que menti quando te escrevi que queria mesmo que essa distância não existisse. eu nunca soube o quanto tudo era importante pra você, nem como deveras cativaste todo o meu coração com suas pequenas alegrias.

queria que fosse você a ir embora, Alice. mas parece que sempre sou eu a dobrar tuas esquinas, enquanto você permanece imóvel nas minhas.

e eu sinto muito.

ainda é sempre com afeto,
Salvador



quarta-feira, 8 de março de 2017

.pequenas alegrias tristes.

as coisas crescem. e tomam forma do lado de dentro.
de fora, tudo é por enquanto.
vento.
vazio.
silêncio.
pra completar, tem ainda essa saudade virando mar.
"a gente não vê onde o vento se acaba".
é Guimarães...
e me questiono:
'onde foi que aprendemos que vento tem fim?'
deve ser lá, naquele mesmo lugar em que damos forma e sentido pra todas as coisas,
quando na verdade, vai ver é só uma questão de olhar adiante:
queixo erguido, coragem brilhando nos olhos, destino.
atrelado nessa vontade da gente de virar estrela e deixar de ser poeira, carregada de lá pra cá.
porque eu nem sei bem onde isso vai dar.
mas se tiver você no fim daquela curva, tá tudo bem.
eu aceito (re) caminhar.


sábado, 4 de março de 2017

.eu vim.

eu vim porque tuas cores me chamaram. e, ao chegar, entendi que vim porque era preciso. há um mistério escondido em tudo isso e, embora a gente feche os olhos, a alma [e também o coração] sabem que a gente veio porque ainda havia dúvida. mas quando pus os pés aqui, na terra de onde teus olhos me buscaram, eu experimentei o que o dicionário sempre quis dizer com 'pertencimento'. 


{fazer parte de.}

é que eu nunca tinha sido parte de canto algum. nem em som, nem em voz, nem em silêncio. eu vim porque teu coração me chamou. e agora, aqui, diante dessa imensidão, eu percebo que vim porque era o meu coração quem já estava pronto, me pedindo baixinho pra vir, ficar, reconhecer. preenchi todo um vazio de 30 anos com seus tons de cinza-cobre-azul. e eu gostei de pertencer ao teu tempo, sem precisar diminuir a frequência do meu.  


{ser parte de.}

que os encontros, segundo a tradição, tem sua hora para acontecer. por isso toda pressa diante do abismo da distância. por isso toda lágrima diante da inevitável despedida. porque eu vim porque tinha que vir. uma hora ou outra, teu sorriso precisaria rir o meu, mesmo que fosse pra gente se desconhecer no meio do céu. vim, porque a saudade que sempre me acompanhou sem saber porque sentir, precisava de um motivo pra continuar crescendo, até sem a gente precisar partir...


 It's Just a Dream, Kath Bloom

domingo, 5 de fevereiro de 2017

.não tenha pressa.

eu desenho o teu retrato. 
pelo grau da nossa distância, é bem possível que eu tenha esquecido de algum detalhe que lhe é importante: uma ruga na testa que surgiu desde que você partiu, um novo fio de cabelo branco se juntando aos vários que você sempre teve na lateral esquerda da cabeça. 
"a gente não tem mais 20 anos", eu sei.
eu tentei colocar alguma cor no retrato, mas meus dias estão cinza. como os seus, nessa cidade que não te deixa sair. 
ela não te abandona, ela te acolhe, ela se fez seu lar. e não importa o quanto chove... é teu silêncio que me importa. porque ele antecede uma saudade imensa em minha vida, que eu sempre pressinto, e até mascaro com sorriso, floral e aspirina, até você voltar, como se nada tivesse acontecido. e se alojar de novo nas minhas gavetas, nas minhas paredes, no meu peito. 
é quase um ciclo. que eu não fecho porque gosto da dor. e porque tenho medo de perder as lembranças que me salvam em dias assim...
"eu gosto de você", cê me disse. 
e eu não acreditaria se não tivesse salvo sua voz em uma parte intocável do meu coração. 
"é que eu tenho medo", cê me respondeu. 
e a gente nunca mais viveria tudo isso de novo, porque não deixou pistas no caminho pra voltar.
"é daqui em diante", eu te escrevi.
com todos os vícios que adquirimos, com todos os machucados que nos curamos. é assim se a gente quiser seguir...
tem um pedaço seu em cada esquina dessas ruas em que você nunca esteve. 
talvez isso seja amor. ou só saudade...



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

.[do livro de cartas] sobre o tempo.

o tempo, Salvador, esse senhor de olhos turvos e roupas claras, me ensinou que quanto maior o amor, mais chance temos de nos machucar. e você há de concordar comigo, quando digo que não somos bons em manter as coisas por perto: temos essa mania bonita de liberdade. e não nascemos pra encarar de olhos abertos o que torna a vida mais real e menos sonhada. por isso nosso querer acabou se tornando nossa maior distância e também a nossa maior saudade.

e se te escrevo assim, enquanto ainda é verão, é porque alimentar esse abismo que a gente mesmo criou, é o jeito que encontrei de me manter ligada a você. não se assuste, querido. enquanto o tempo passa, continuo ouvindo minhas músicas, escrevendo minhas cartas, conhecendo outros lugares, fazendo novos planos, encontrando pessoas diferentes, vivendo outras histórias, nesse quase gerúndio que tanto te assusta.

Bisa me disse semana passada, que a gente só resiste a toda essa distância porque ela é nosso escudo, nossa fuga, nossa razão de continuar quando tudo é caos. por isso gostamos tanto dela: ela protege nosso coração da dor. 
acho que compreendi. 
e sei também que enquanto continuar sonhando, meu amor vai ter sempre o peito seu pra se recostar. e é por isso que, dessa vez, não prometerei lhe visitar no outono. 
espero que compreenda também...


"Me escreve antes que eu me vá. 
Nem que seja um bilhetinho. 
Gostaria muitíssimo de levar
a tua bênção, ou uma força qualquer 
- boas vibrações." 
Caio F. Abreu 

Sempre com amor,
Alice.








quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

.entrelinhas [ou nossa primeira tentativa de (a) mar]

cê sempre foi, desde que chegou, a maior chance de equilíbrio que eu tive.
coube n'ocê uma vontade minha de fazer as coisas darem certo.
deu no meu peito, de repente, um desejo manso de pegar a sua mão e ir embora por aí, uma porção de vezes, pra onde cê quisesse sonhar.
coisa dessas de confiar de olho fechado em alguém que chegou por pouco e, desse pouco em pouco, se alojou na minha vontade de ser algo melhor do que sempre fui.
não vou te falar nada de amor. eu sei que cê tem medo dessas coisas.
e eu também tenho, porque já mirei muita rima errada nessa imensidão. 
também não vou te dizer que cê é uma chance boa que eu tenho de continuar em paz.
cê não entenderia.
porque isso tudo aconteceu numa manhã em que cê sorriu e disse que tava ali. que custasse o que fosse, agora eu podia respirar porque eu tinha ocê do lado.
e foi o que eu fiz... peguei um fôlego danado e cheguei até aqui: braço, mão, corpo atados. mas sem desistir... uma diferença só! de se notar em cada sopro que eu não verso, mas que cê poesia.
porque cê tem a ver com essa coisa de eu me sentir feliz sendo a pessoa que eu sou. 
[mar-verso-sonho-riso-luz-vontade-força-passo-coragem-gosto]
e isso provavelmente é algo muito maior do que a gente poderia imaginar. 
só espero que quando tudo isso acabar, cê leia essas palavras e entenda as entrelinhas:
que todas as suas surpresas, foram meu maior nó no seu laço.
e que, se eu pudesse, escolhia ter te conhecido antes do nosso coração ser caco de vidro.
mas como não posso, aceito colar caco por caco, desde que cê não vá-se embora nunca mais...