domingo, 26 de junho de 2016

.attraversiamo.

atravessei a cidade inteira ouvindo sua canção preferida. chorei. algumas distâncias doem mais do que as outras. e não há uma forma de passar pelos dias, sem cicatrizes, quando aprendemos que é sempre preciso fazer escolhas. eu não sei o que seria se tivesse ficado. talvez você tivesse sido feliz. talvez a gente tivesse ido longe. talvez tivéssemos criado os mesmos sonhos, que tomariam outra proporção se realizados juntos. algumas perguntas nunca terão resposta. porque é preciso mais que coragem para encarar alguns abismos. é preciso mais que paixão para preencher alguns vazios. é preciso mais que olhos doces para encarar o céu de inverno dessa cidade cinza. no caminho para casa, Florence gritava em meus ouvidos, 'leave all your love and your longing behind, you can't carry it with you if you want to survive'. deixei escorrer o amor e a saudade com as últimas lágrimas que ficaram do lado de fora. a gente vai sobreviver. e, dessa vez, eu não senti que perdi alguém...



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segunda-feira, 20 de junho de 2016

.[do livro de cartas] com amor, Bisa.

hoje é o último dia de outono. e se eu pudesse, queria lhe fazer um pedido: para atravessar o inverno, não feche os olhos nunca mais para as verdades do teu coração.
sim... elas vão te levar cada vez mais por caminhos desconhecidos, mas você terá sempre a graça dos encontros e o aconchego dos abraços pra voltar.
então não te esqueças...
que se eu pudesse lhe dar um presente para aquecer teus próximos dias, eu encheria teu coração com o sabor doce daquele leite com açúcar e canela que tua mãe fazia quando anoitecia.
e então eu desejaria que você não se culpasse, nunca mais por suas escolhas. elas vão ser sempre parte do teu destino e é por elas que teu coração vai continuar a bater. 
porque estás viva, porque são tuas escolhas [e de mais ninguém] que te fazem viver.
eu sei que as palavras são um pouco duras algumas vezes. 
mas quando assim for, quero que se lembre:

do seu filme preferido.
do meu desejo para você.
do amor que sinto.
do enorme amor que tens no coração.
para que não desistas, nunca mais, dos sonhos teus.

"então, minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro. pode suportar os baques da vida. se deixar passar essa chance, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. então, vá em frente, pelo amor de Deus!".

não se vive o outono mais de uma vez a cada ano. 
não se encontra sentimento verdadeiro mais de uma vez em cada vida.
então, vá em frente, minha querida. que cicatrizes você já tem. 
e não tens ossos de vidro. que já é tarde demais para se arrepender.

com carinho,
Bisa.

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quarta-feira, 8 de junho de 2016

.cabe na simplicidade.

se cê vier ainda hoje, antes das seis, vai acontecer de cê me achar meio cinza, nublada dessa coisa toda que é viver.

mas eu vou gostar que cê se achegue. capaz até que eu passe um café, desses bem fortes que é pra acordar o peito e deixar de lembrar dessas coisas ruins.

no entanto, se cê preferir não me ver assim - cabisbaixa, olhos adormecidos, coração meio frio -, deixe pra vir quando for sexta-feira.

que eu me preparo melhor.

[abro vinho, colho flor, curo o coração, talvez tenha sobremesa e eu já tenha secado esse temporal]

a gente pode até deitar no céu pra ver estrelas no chão. ou falar dessas coisas que deixam a vida mais bonita. e que cê carrega. e que cê me dá só de sorrir.

é de sofrer mesmo, um pouco, quando se deixa tocar pelo amor. ou pela ideia do que ele pode nos fazer.

mas cá dentro, nessa minha alma meio calejada desses dias cada vez mais sombrios, cê tem sido a coisa boa de viver. tipo vó dizia, quando a gente passava horas sentada na mesa da cozinha, comendo biscoito de polvilho com suco de pêssego: 'ô trem bão, minha filha!'.

- mesmo assim,

cê vai dizer. e eu vou repetir que sim, que mesmo assim. com tudo acontecendo desse jeito, essas formas nada geométricas e cê crescendo em mim de um jeito visível, como se a gente pudesse... 

cê veio pra ser minha coisa boa, mesmo sem se poder ser. e ainda que cê se demore, cá no fundo eu perdi a pressa. só por hoje. que é capaz até de eu abrir um sol tamanho só pra te proteger do frio e te ver dançar...



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quarta-feira, 1 de junho de 2016

.enquanto for.

o dia acordou junho.
em uma preguiça envergonhada de abrir os olhos
e (re) começar.

há recompensas lá fora
em forma de céu azul e previsões de chuva.
há esperanças aqui dentro
em forma de sorrisos eternos e lembranças de amor.

um desejo:
que a gente caiba nas mesmas canções e nos mesmos versos doces, 
enquanto ainda for inverno

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