quinta-feira, 25 de junho de 2015

.agradecimento.

quinta-feira, 25 de junho. *2015

hoje o dia amanheceu mais frio. deu em alguns jornais (e no boca a boca dentro do ônibus) que tivemos a madrugada mais gelada do ano, como antecipara a previsão do tempo. embora às vezes me acolham em melancolia, gosto de manhãs assim. gosto delas pra observar as pessoas bem vestidas, com seus casacos quentes e cachecóis. gosto delas pra sentir aquele cheirinho de guardado no elevador, no táxi, no banco, nas esquinas. gosto delas porque normalmente é fácil sorrir, com os ipês de inverno florindo e deixando as praças mais bonitas. gosto, porque desde criança brinco que nasci no lugar errado, onde não há praia nem neve, e essas nuvens frias se espalhando no céu azul, acabam me fazendo esquecer que, algumas vezes, é difícil me sentir em casa aqui.
mas ando. vez ou outra lembro que este ano ganhei de presente da vida a oportunidade doce de passar por dois invernos: um em Roma e este aqui, que vivo agora. me agarro à ideia de que quem resiste a dois invernos tem força suficiente pra se resgatar até o próximo verão. aí acalmo o coração, vejo fotos, ouço uma música, vou à sorveteria italiana que abriu há um tempo, mas que conheci a pouco, me recomponho aos pouquinhos porque é assim que acredito que tem de ser. porque a gente tem de acreditar em algo. porque, como já disse Chico (o Buarque), 
"tudo é vário. 
temporário. 
efêmero". 

...mais do que desejar que os dias continuem frios, que as cafeterias fiquem cheias de sorrisos, chás e cappuccinos com chantili, que os casacos saiam do armário pra ver o céu azul que se faz do lado de fora, esse texto também é para agradecer. por cada um que continuou passando por aqui, quando eu mesma deixei de passar porque achei que nosso propósito (meu e do blog), já tinha se perdido há um tempo... a gente voltou... porque saber que alguém vem aqui, buscando cores em forma de palavras, faz com que a gente continue. então, de coração, obrigada! por aquecerem meu inverno com cada visita... 


segunda-feira, 22 de junho de 2015

.um gesto.

gostar: 1. dedicar amor; 2. querer, estimar; 3. ter afeto


Era isso, então. Aquela vontade de dividir o mundo e fazer o outro sorrir, se resumia em um verbo transitivo indireto, simples, mas que causava tanto espanto. Talvez porque as simplicidades nunca caibam em qualquer explicação. E pr’aquilo que a gente não explica, resta sentir. E sentimento nem sempre é tão leve quanto deveria. Se conseguisse se importar menos, talvez tudo deixasse de ser tão monstruoso. Mas ao invés disso, resolveu colecionar sorrisos e pistas, em silêncio, mas que faziam dela alguém gostável também. Ou quase. A verdade é que coragem nenhuma nesse mundo a deixaria dizer em alto e claro som daquilo que por vezes doía; por outras alegria; por fim (nunca se sabe um fim), vivia. No entanto, aprendera ainda criança, que quando se atribui um verdadeiro valor ou significado a um sentimento, ele morre um pouco, se apaga por não querer se fazer compreendido... assim, hoje de manhã, logo ao acordar, nem se levantou da cama e já disse pra si mesma: “gosto, gosto muito!”.  Era ali, então, seu primeiro passo para desfazer daquilo que lhe dava brilho nos olhos e pequenos cortes de mágoa no coração.


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segunda-feira, 15 de junho de 2015

.entre o meio e o fim.

Mais uma vez, recomeço. Agora, partindo daquele ponto em que se perdeu, outra vez, um pouco da delicadeza, da cor e da solidão. Afinal, se é pra ter de volta a leveza da alegria, que seja ainda no outono, quando o tempo passa mais depressa por nós. Eu sei que não tem sido fácil pra você desde o último verão. As coisas deram um giro e continuam girando, girando, girando... como se você fosse cair a qualquer momento e machucar os joelhos, como na infância. Eu sei. E compartilho da sua aflição, embora eu prefira chamar de inquietação. Tens o coração inquieto desde menina, desses que não param em um caminho só: preferem zanzar daqui pr’ali, se enchendo de amor até transbordar. E quando transborda, já era! É hora de saltar, porque é melhor ir assim de fininho, sem fazer alarde, à francesa – como dizem – do que se ferir outra vez. Só que até coração inquieto, minha pequena, vez ou outra se encosta num peito manso, pra sentir outro coração pular descompassado, como todo seu carnaval. Só que até carnaval acaba, querida, deixando saudade, flor, confete e serpentina. Então, vai! Apruma esse peito, chora se preciso for, se perdoa pela entrega, recobra teu silêncio, enche os olhos de sorriso, e vive! Porque não há dor que dure o ano inteiro, nem amor que não valha a pena. Escreve: há de ter um jeito de a gente se recuperar, sem colecionar cicatriz...