sexta-feira, 30 de novembro de 2012

. pra machucar os corações .

. Caetano e João Gilberto .



"Quem acreditou
No amor, no sorriso e na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais
Quem no coração
Abrigou a tristeza de ver
Tudo isso se perder
E na solidão
Procurou o caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou
E tanto que o seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou"

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

. quinto dia .

Não telefonei, nem respondi as mensagens da minha caixa postal. Por um pouco de preguiça, por um pouco de vontade de evitar aquelas pessoas que queriam saber o tempo todo se eu estava bem. Eu estava, enfim. Com o coração esmagado no fundo do peito e um vazio ocupando o enorme espaço que sobrou. Mas eu tava legal. A vida ainda tava no lugar, o sorriso se intercalava um pouco com as lágrimas, a cabeça queria estourar, o estômago mal suportando ver comida, uma garrafa novinha de conhaque na estante, um livro para começar a ler. Eu não imaginava que seria assim. Acredito que a gente nunca saiba ao certo a dimensão da dor. E eu sei que você vai me perguntar “dor por que se você me disse várias vezes que estava arrastando essa história por anos!” e eu vou te responder que “eu não sei por que dói, nem porque existe, nem porque insisto” e te pedir pra aparecer, tomar um café, conversar comigo, ficar um tempo, dar uns puxões de orelha, não sumir, me dar um abraço, ser minha amiga, enfim. Mas você sumiu e eu não sei o que te fiz, nem o que fazer agora, sem ouvir você dizendo o tempo todo que preciso aprender a dançar. Afinal de contas, “a gente nunca sabe qual o ritmo certo do amanhã”.

Eu sinto muito se te magooei, se você tá cansada ou de saco cheio da bagunça das sextas e dos sábados, mas eu só queria te dizer que amanhã ainda é terça e a gente pode tomar um suco, uma água, um sorvete, ou passar um tempo sentados na praça esperando a decoração de Natal... o que eu não queria é passar mais uma semana sem notícias e sem te contar que os planos de ir embora voltaram a fazer parte das minhas manhãs...

 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

. em um dia de sol e novembro .

É impressionante como você consegue ir do céu ao inferno em poucos minutos. E tudo aquilo que imaginou que era, simplesmente não existe, como naquelas histórias de Papai Noel, Coelho da Páscoa e “eu volto no próximo verão”. Você é obrigado a tomar doses exageradas de realidade, em um momento em que tudo que precisava era de um pouquinho mais daquela ilusão branquinha, que deixaram esquecida em um vidrinho no primeiro degrau do último andar de sabe-se lá onde. Você até tenta pensar que, no fundo, a vida podia ser mais injusta, enfim; e que podia ter te poupado de outro furacão, te deixando inteira ao menos dessa vez, te guardando de menos uma dor. Mas não. Aí você entende que tudo de uma vez é uma boa solução prática pra chorar o que é preciso, “cortar os pulsos”, ir de um extremo ao outro, se culpar, procurar soluções que não existem, respirar, respirar, respirar, sobreviver... porque não é a primeira vez nem será a última que você precisará reconstruir a casa inteira, aguar as plantas secas, limpar os tapetes, lavar as cortinas, trocar a louça, reorganizar a mobília. Não é a primeira e nem será a última vez que te cortarão inteira, sem se importar com o tempo que você levou pra se reconstituir. Você pensa, então, em trocar de vida, se mudar pra Índia ou pro Japão, esquecer um pouco que tem uma vida inteira pra cuidar, uma porção de problemas pra resolver e um coração só e pequeno, que já não suporta mais se encolher. Aí você descobre nisso tudo que é mais forte. Que podem vir mais tempestades. Que o mundo ainda não acabou. E que, no fim, é só você contra você mesmo.
- A vida é dura, minha querida.
- Eu sei. Eu sei...


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

. (re) invento .

e então a gente aprende a reinventar a própria vida. 
começa a criar novos sonhos, a planejar viagens, a ver mais filmes, a conhecer pessoas, a sair sozinho nas tardes de domingo e feriado só pra sentir o descanso indo embora... passa a experimentar novas bebidas, volta a sair nas quartas-feiras, começa a escolher pessoas e a amar incondicionalmente sua família e seus verdadeiros amigos. aprende a não ligar insistentemente, a chorar menos, a falar apenas o necessário, a lidar com a solidão como se ela fosse companhia, a sofrer menos amanhã por um amor que teimou em morrer... 
passa a estar no lugar certo, na hora certa, simplesmente porque é ali que deveria ter ficado o tempo todo. (re) significa canções, atribui novas lembranças a lugares antigos, cai e se levanta com uma facilidade incrível e sem quase nenhum arranhão. entende que, no fundo, não houve erro nenhum em momento algum. guarda mais rancor, cultiva mais mágoa, se protege com fé das externidades e se fecha mais em sua fantástica bolha, onde ninguém pode entrar nem te atingir. sabe que 'nãos' tem a mesma força e probabilidade que 'sins', então se arrisca mais, sem esperar que alguém ligue quando amanhecer. 
entende que não há uma vida certa ou errada, mas sim um dia em que se pode sorrir e um outro em que tudo se ajeita, cada coisa em seu lugar...

domingo, 11 de novembro de 2012

. coisa de esquecer .

- não deu certo porque a vida sempre foi urgente demais pra você, Alice. às vezes o próximo passo precisa ter medidas; às vezes a gente precisa dormir; às vezes 9 da manhã é horário de se estar saindo, não chegando. não teve amor, mas eu gostei de você com uma ternura de domingos amanhecendo. quis te levar pra casa, colocar pra dormir e fazer um café forte com torradas pra te acordar. quis caminhar ao lado pelo parque e tirar uma foto com legenda pronta, teu rosto no meu ombro, um meio sorriso demonstrando paz, coisa de afeto, carinho, delicadeza. quis te fazer entender que, sem pressa, a gente encontraria sim o nosso lugar, construindo uma porção de sonhos, como você sempre desejou. quis tanta coisa bonita, minha querida. que se não fossem as urgências dos seus 20 anos, teria sim se transformado em amor. foi quase Alice, quase! mas deixou de "quase ser" porque aprendi a me proteger de você, seus sumiços, suas histórias e sua coleção de amores. deixou de "quase ser" porque, aquele dia que você preferiu ficar sozinha no bar porque precisava beber e ver o dia nascer de tanto dançar, eu prometi pra mim que você seria minha melhor amiga de sextas e sábados e que aquele sentimento maluco, que vinha acompanhado de uma vontade de te ver quando você não estava, ia evaporar em silêncio, da mesma forma que insistia em chegar e ficar.
Eu tentei Alice. pouco, você pode até dizer. mas já deveriam ter te dito que, além de paixão, seus olhos também alertam "cuidado". e eu, que vinha da vida com o coração magoado e cheio de cortes que vez enquando ainda sangram, achei oportuno me retirar. e esquecer que você quase mudou o tom da minha vida inteira...