segunda-feira, 29 de outubro de 2012

. que não há mais tempo .

Escreveu um poema qualquer em papel manteiga e guardou em um envelope pintado a giz. Que tinha um destino, mas que estraviou sem que ninguém soubesse, em uma dessas manhãs de sol forte, céu azul e alegria-triste no peito. “Acorda que não é mais tempo de se entregar a sorte”. Sorriu. A vida é mesmo mágica. E a chuva lavou-lhe a alma, a mágoa e a esperança inteira.


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

. quarto dia .

não sei o porque daquele abraço eufórico, cheio de (como você mesma disse) saudade. talvez fosse bom dizer que era mesmo isso, essa coisa que a gente sente só por quem gosta, mas aí eu teria que me explicar demais e, no fundo, eu só queria um pouco de sossego, uma cerveja gelada e alguém pra ouvir minhas novas histórias pelas próximas horas. era pra isso que você me servia, então. Uma boa ouvinte para minha vidinha meia boca, precisando dar uma renovada, uma virada, um novo amor, quem sabe? Mas dessa vez foi diferente. você não tava afim de ouvir sobre as novas garotas da minha vida nem sobre fadiga do meu dilemático emprego de sempre. E deixou isso bem claro pedindo outro copo, um sanduíche, mostrando um livro, respondendo mensagens no celular antigo, “vamos mudar de assunto, por favor?”. Porque a vida tava pulsando lá fora e você precisava ir embora e eu só queria dizer que senti sua falta esse tempo todo e que ter você na minha frente era como uma espécie de paz e aconchego. Mas era tarde demais pra isso, não é mesmo? Você pagou a conta tão rápido, como quem foge de alguma coisa pela janela dos fundos. e eu fiquei sozinho outra vez, com meu maço de cigarros brancos, uma porção de vida pra dividir e um pesar imenso de não ter dito que era pra ser com você.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

. não acaba .

"O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa."

Martha Medeiros