domingo, 31 de outubro de 2010

quase



"Nada por dentro e por fora além daquele quase-novembro, daquele vento, daquele céu-azul – daquela não-dor, afinal."


Caio F. Abreu

Eu quis te escrever algo bonito...

Sempre pensei que o amor fosse outra coisa.
e achava que assim como nos filmes, ele chegaria quando eu menos esperasse e levaria todo o meu sossego embora.
Quando conheci Amélie (a Poulain), queria que o amor fosse tão mágico quanto narrado no filme. E acreditei que fosse. E passei a procurar um Nino só pra mim...
bonito eu também sempre achei...
e já logo pensava que reduziria todas as minhas noites de sono e transformaria a minha vida inteirinha em outra coisa que eu nunca parei pra pensar qual.
sempre pensei que a gente tivesse que esperá-lo e de tanto esperar, cheguei a pensar que ele tinha se perdido no caminho.
experimentei uma ou duas chances de amor e só...
fui percebendo que ou as coisas andavam muito erradas, ou eu não tinha sido feita pra essa coisa de amar.
aí fui esquecendo enquanto planejava minha vida e meu caminho.
fui construindo sonhos com tudo que eu podia, com tudo que eu tinha...
idealizei minhas coisinhas bem ajeitadas dentro de um apartamento, meu café, minha escola de música e uma casinha pra mamãe morar (ela não gosta de apartamentos nem de cidade grande).
eu construí a minha solidão e passei a morar nela. Era tudo tão confortável e cômodo lá dentro!
e assim, passei a colecionar ilusões...
e com o tempo, fui descobrindo outras pessoas pra dedicar amor. Eu ainda tinha avó e família e amigos (embora talvez, o amor pelos últimos seja o mais frustrante).
E então, foi com o tempo que aprendi que o amor é como compor uma sonata: desafina um pouco, se perde nos compassos, extrapola uma ou outra nota, mas não perde a harmonia, nem a doçura, nem a delicadeza...
E descobri que, ao contrário do que dizem nas novelas, ninguém morre por amor, pois amor é dança, é vento, flor bela e perfumada, borboleta livre no ar...

eu encontrei o amor da minha vida em um minuto de dia amanhecendo. O sol entrou pela janela, fazia um calor danado e tive certeza de que tudo ficaria bem e de que, se aquele não fosse o caminho certo, era ao menos o mais bonito...
eu tinha uma mão pra segurar na minha, um abraço pra acolher o meu, um sorriso pra enfeitar os dias...
e eu tive uma vontade enorme  de parar o tempo naquele minuto. E de morar nele pra sempre!
No entanto, eu só pedi a Deus que abençoasse nosso instante...
e foi assim que descobri que, na verdade, o amor é um constante amanhecer...



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Em paz...

É bom saber que está tudo bem... o trabalho, o coração, a vida.
E pra tua pergunta, a minha resposta é não.
Eu não esqueci você.
Nem as alegrias, os sorrisos, as brincadeiras e nem as rosas.
Mas chega uma hora que as coisas começam a tomar proporções diferentes e os caminhos, viram rumos desencontrados...
E é nessa hora que a gente precisa pegar tudo que tem e saltar.
Pra que esse tudo que nos foi tão bonito um dia, não se perca no tempo.
Quando salta, a gente salva e eterniza as alegrias da vida.
E foi isso o que fiz.
Eu não esqueci você e não vou esquecer nunca.
Porque não fui preparada pela vida pra descartar pessoas...
Fui preparada pra cuidar delas e amá-las sempre, mesmo apesar de...
Então, lhe deixo a simplicidade de Caio...
Como sempre, ele sabe melhor do que eu, o que dizer...

"A gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. Tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. As coisas novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. Mas a gente nunca tira tudo. Sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. A gente sabe. Que tá curta, pequeno, apertado. É que a gente queria tanto. Tanto. Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto. Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação. Isso pode servir melhor para outra pessoa. Hora de deixar ir. Alguém precisa mais do que você. Se livrar. Deixar pra trás. Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. Perca de espaço, tempo, paciência e sentimento. Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. Deixa. Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça."
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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"Há alguma coisa aqui que me dá medo. 
Quando eu descobrir o que me assusta, saberei também o que amo aqui..."
Clarice Lispector 


 

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cidadezinha Silenciosa...

É impressionante como Itaúna perde um pouco sua vida aos sábados depois das 14h e só a recobra domingo à noite, ou segunda-feira, quando as pessoas começam a sair para trabalhar pela manhã.
O horário dos ônibus é adiantado em até 10 minutos (tempo considerável para quem se acostumou a marcar seus passos por um relógio) e estes, passam sempre quase vazios.
Sábado foi a primeira vez que vi Itaúna aos 23 e percebi que ela ainda funcionava como aos 21, quando saí de lá.
Exceto pela praça central, agora praticamente interditada por uma "grande e inovadora" reforma, algumas lojas novas no centro e outras antigas com suas fachadas reformadas, tudo continua no mesmo lugar.
As únicas pessoas nas ruas aos sábados depois das 14h, são as que ainda voltam do trabalho ou as poucas que ainda vão trabalhar. Outras (e essas poucas mesmo) que saem para ir à Igreja, à banca de revistas que fica aberta até às 20h, ou os senhores que jogam truco e xadrez embaixo das árvores (e quando chove, nem eles resistem).
À noite, o movimento gira em torno da avenida principal cercada por bares e sorveterias. As pessoas costumam andar de um lado para o outro, sempre bem arrumadas e sorridentes. Meus amigos costumavam sentar para beber e conversar no posto de gasolina que tem em uma esquina. Sempre achei interessante, apesar de sempre ir embora  cedo.
No sábado, voltando pra casa num ônibus vazio,  olhei para o posto procurando rostos conhecidos e não encontrei. O tempo havia passado por ali também e pela vida de cada um deles...
Sempre gosto de voltar pra cá (Belo Horizonte) antes de Itaúna recobrar a vida que perde aos sábados depois das 14h. Não sei... acho que essa ausência de vida, a deixa mais serena, mais tranquila, mais interiorana.
Pode ser cisma minha, mas acho que ela fica mais bonita sem tantas pessoas correndo de um lado pro outro.
Bem... as pessoas em Itaúna não correm muito... vai ver é por isso que qualquer movimento mais acelerado, pareça tão estranho pra mim, visto lá.
Vai ver é por isso que, mesmo que eu tenha saido de lá por escolha, eu gosto tanto daquele lugar.
Itaúna, pra mim, é um constante amanhecer...

...


"Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida." 
Ana Jácomo

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

J'ai trouvé une raison

O dia acordou nublado e frio...
Olhei pro céu e pedi a Deus que fosse bonito, doce, calmo, sereno...
... pedi que não fosse apenas mais uma quarta-feira de acordar às 6h35 e sair às 7h15 pra trabalhar...
Desejei que tivesse mais motivos pra sorrir, mais motivos pra acreditar, mais chances de encontrar...
Pedi mais fé, mais clareza nos olhos, mais pureza no coração.
Desejei mais compreensão, mais certeza, mais força, mais decisão.
Desejei menos solidão, menos tristeza, menos dor...

Talvez um cinema mais tarde, um chocolate quente ou um capuccino.
Amanhã já é 23...

Para ouvir: I Found a Reason, Cat Power

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"De repente toda mágica se acabou..."

O Teatro Mágico

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ei!

e se você me ouvisse mais, se acreditasse mais em mim, talvez fosse mais fácil te fazer entender que é de verdade.
que é grande. que é bonito. que conforta...
a gente se perde muito no tempo, eu sei.
mas senta aqui do lado, vai passar um filme bonito na TV e tem um CD novinho pra gente dividir.
tem uma vontade enorme no meu coração... de dividir a vida com você.
mas se o tempo passar por mim, vai carregar, levar embora... sem te esperar.
e eu espero... que definitivamente, alguém defina o que fôr melhor pra acontecer.
porque hoje eu tô tão calma, tão zen e... tão sozinha!
que se você abrisse a porta, talvez eu nem conseguisse ouvir.
que se você batesse a porta, talvez eu nem me importasse em te ver sair...

"LePethitPrince"


Memórias de um dia especial... (07 de outubro de 2010)

Thiago Pethit

ps.: não podia deixar de dizer que no CD "Berlim, Texas" achei uma cosinha tão fofinha! no mapa mundi no encarte, vem escrito em letras pequenas, embaixo, Gravado na Primavera de 2009. Achei tão poético! rs

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

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"Pensando em escrever para minha mãe, em mudar de vida, de emprego, de cidade, de país, que vontade, querida mamãe, de ser feliz, de ter um grande amor bem limpinho, bem clarinho, um amor de manhã bem cedo, não diga nada a ninguém, não é preciso, mas cá-entre-nós-que-ninguém-nos-ouça, não vem dando muito certo, tenho tentado, juro, beijos no pai, que ele não saiba que estou ficando velho, não conte a tia Flora que perdi as ilusões, que já nem lembro mais, e encho o saco disso e apago a luz e durmo e sonho."
Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Quando chega a hora de ir...

"(...)eu quis ir embora tantas vezes...
mas aí a gente foi ficando, ficando... e foi tudo ficando tão dificil!
O sol, as cores, os compassos...
E eu sei que não foi sua culpa... eu entendo!
Mas você precisa entender também que não foi de propósito.
Essas ausências, essa angústia, essa tristeza, essa dor.
Não sei lidar com a solidão, embora ache que nada nunca me coube tão bem quanto ela.
E sabe... a gente devia ter se despedido antes.
E você sabe o quanto tentei...
Mas a gente foi juntando e colecionando tantos pedidos de desculpa...
Quando na verdade, não existia erro nenhum.
Era só se despedir e ir sabe...
E você pediu tanto que eu fiquei...
Me acostumei a ficar e aos poucos, fui me perdendo, sem ter mais pra onde ir...
E então, você vem dizer assim tão de repente, que precisa ir?
Mas e eu?
O que eu faço comigo e com todos os costumes  e todas as canções e todos os cantos e todas as alegrias tristes?
eu não devia ter pensado tanto em você...
E preciso parar de pensar... pra me reconstruir...
Porque quando a gente quer ir embora, eu aprendi que a gente deve ir.
E foi por isso que não te pedi pra ficar, nem fiz nenhum esforço qualquer...
A porta fechou, o guarda-roupa ficou vazio, a poltrona na sala mudou de cor...
Aí eu chorei. Só aí eu chorei..."

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Que seja Doce..."


"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias. Bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo.
Repito sete vezes para dar sorte: que seja doce, que seja doce, que seja doce, e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder.
Que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de você. Que sejam doces os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira – quando começa a contagem regressiva para o final de semana chegar. Que seja doce a espera pelas mensagens, ligações e recadinhos bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz ao falar ao telefone. Que seja doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. Que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce a ausência do meu medo. Que seja doce o seu abraço. Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão.
Que seja doce. Que sejamos doce. E seremos, eu sei"
Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

À outubro, com carinho...

"Acordei com a sensação de que o tempo era outra coisa. 
E a vida também. 
Com uma saudade que tinha feições familiares. 
Cheiro conhecido. Braços longos. 
Que eu tentava sufocar das mais variadas formas e continuava lá, pulsando, doída e doce, desde sempre."  
Ana Jácomo

Existem umas coisas que movem a vida da gente.
E por mais que sejamos responsáveis por nossas próprias escolhas, algumas alternâncias acontecem sem nos deixar muito o que fazer.
A saudade vem movendo meus últimos dias... por ela, sinto vontade de escrever e por ela me anulo, sem saber muito pra onde ir ou o que fazer e dizer...
Caio Fernando Abreu dizia sempre que os dias mais dificeis estão em agosto e setembro.
Pra mim, continuam sendo os de outubro... com suas surpresas e suas alegrias tristes.
Costumo dizer que quem resiste aos meus outubros, resiste à minha vida inteira...
E ela, que hoje é só saudade, anda tentando se trasnformar em resolução...
Talvez seja a massa de ar quente, o céu cinzento e o calor... sinto tanta falta do frio de fora!
... talvez seja esse silêncio ensurdecedor.
A agitação de violinos descompassados, buscando soluções nos sons, é hoje, a ausência que mais me dói...


"Toda alma é uma música que se toca"
Rubem Alves