segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Lembranças...

Vivi um tanto de tempo agarrada a coisas e pessoas que hoje (felizmente, eu acho), não me fazem diferença em suas ausências. Ah mas já fizeram um dia. Já me doeram como corte profundo daquelas facas pequenas e super afiadas que só encontramos hoje em dia, na casa da mãe da gente, guardada no fundo da gaveta, enrolada em papel jornal.
Acho que no fundo, sempre fui diferente. Na escola, quando passei a fase de me sentar sempre na primeira carteira da fila do meio, fui me encolhendo nas beiradas e nos fundos, que era pra ninguém me reparar. Mas sempre tinha aqueles (mais reclusos, ou o mesmo tanto que eu) que também se escondiam, fosse para rir, para dormir ou para aquietar mesmo, em suas solidões que no fundo, só existiam (talvez) fora dali. Houve um tempo que até tentei me misturar. Mas meus silêncios e desencontros (que nem a mim agradavam então) fizeram com que eu me encolhesse cada vez mais, como um bichinho, diferente demais pra estar ali.
Mas como sempre acontece, conforme fui crescendo, encontrei os meus... aqueles de dividir o lanche e o sol de inverno do recreio; aqueles de sentar no portão pra conversar sobre a vida e o dia; aqueles de ir à praça aos domingos mesmo que em silêncio, só pra deixar o tédio ir embora; aqueles de ouvir rock'roll e ensaiar duetos de Mozart; aqueles de ir embora pra casa à pé quando o mês era longo demais pra um dinheiro sempre curto; aqueles de esperar na porta do trabalho pr'um sorvete e de perder tardes de sábado fazendo doce ou cookies da revista...

Sinto falta dos meus todos os dias. Porque embora eu não acreditasse na época, acho que não tive ainda dias tão felizes como os de olhar a vida cheia de medo na beira do caminho e ter sempre uma mão que, mesmo também muito temerosa, não receava em se estender e me fazer ir, pr'onde quer que fosse, pr'onde quer que eu quisesse ir. Quando relembro, é que me dá até um frio na espinha, de perceber o quanto tudo mudou e de sentir tanta saudade da fragilidade que eu tinha, da pequeneza que eu era...
E hoje, tão saudosa assim, eu rezo a Deus que não me deixe nunca perder dos meus, mesmo que a gente esteja meio assim distante, mesmo que talvez, quando nos encontrarmos, nem eu os conheça, nem eles me reconheçam mais... esse talvez, seja hoje o meu maior medo...

Um comentário:

Bruna disse...

Lindo Débora... me identifiquei com ele... nossa! amei... com a sua permissão um trecho vai pro face. Pode?? Bjus querida e continue nos privilegiando com seus lindos textos.